Por mais diminuta escassez ou no excesso
Incontida pletora somos os dias; o primeiro
O último os de permeio; por mais que deles
Se faça devido ou indevido uso eles passam.
Por nós dentro, assim como o mar nas areias
Que o cercam. E somos as rotinas que temos
E mais as somos quando as desfazemos. Por
Mais novo que o novo seja em anúncio prediz
O velho; este diz quem somos. Não porque se
Morra, um nada em si, mas porque de viver se
Deixou. Tão desigual é dizer sul ou dizer norte.
Por mais andado ou parado há movimento que
Se faz por si. Na maior das casas e entre estas
A mais rica há pobreza escondida, em casa de
Gente pobre e dentre estes os paupérrimos há
Improváveis alegrias. Por mais aberta que seja
A planície trago cercados, por mais prisioneiro
Vento a liberdade. Por mais que insista desisto
Por mais que desista persisto. Por mais amor o
Fim do mundo é o lugar ao lado e há o consolo
De dizer sem que saibas ou me oiças teu nome
Enquanto houver frondosas sombras de árvore
Ou a orla do mar dilo-ei até me cansar; foi tudo
Ficámos eu. E digo o teu nome e ergo-o à boca
Sua altura te beijo. Ficámos eu; aí no lugar que
Vim. Ah o passado! E vai dizer à ave que ferida
Voa sangrando nos céus impossíveis matérias
Do sonho que pare! Dizei tu como este decaiu;
Não o direi; mesmo se exangue uma, são duas
As asas; essoutra inteira ainda reclamando dia.
(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)