Eterno ternamente no teu amor
Terno eternamente o meu amor
Soubesses o cansaço
Pedras que pesam os
Pés que não andam e
Mãos que não voam e
Se to disser, por certo
Sei que me crerás tolo
Daí me calar até ser dia
E nunca mais regressar;
Muito menos a mim mor
Do que a qualquer outro
Lugar de ti nunca sequer
Tentar me apartar eu sou
Essa parte que não podes
Amar nunca entrado saído
Um círculo o raio abraçado
A compasso desenhado no
Diâmetro de lado a lado céu
Geométrico que seguro com
Meus braços azul até mais o
Não poder suster em dor cair
Em mil pedaços o meu sonho
Pedaços que refaço à mesma
Precisa cor azul, eternamente
Sísifo, cada pedra pena acima
E abaixo, e tantas apenas uma
Ainda assim, talvez num tempo
Tardo possa repouso encontrar.
Os grandes males
Alongam sombras
Os sorrisos breves
Sóis que acendem
Em paz as chamas
Que invocam amor.
Teimo o Natal! A minha meninice convocan
A tua e a tua também. Magoa por quem já cá
Não está e por quem já não somos. Vi sorrir!
Vi namorados, enamorados enlaçados, ruas
Cheias e sorrisos misturados de idades cãs
E gente de palmo e meio pasmos das luzes
Que me pasmam na meninice que convoca
O meu lado triste e que a sorri na cidade e
Vi sorrir e sorri e é Natal afinal há igrejas e
Cheiros quentes das castanhas assadas e
Há mãe e mano e gente e seu afã a sorrir
Vejo e desejo intimamente que se beijem.
E que vale a pena o amor com quem quer
Seja. Ah meu pai, dá a tua mão à minha e
Conto-te o Rossio a cidade à beira-Tejo e
O Chiado todo iluminado e gente de tanto
Lado. É Natal e dói e há gente a sorrir por
Amor seja donde for. Sou menino, o puto
Sem pudor no espanto da luzes; bonitas!
São bonitas meu pai. E da cozinha desse
Passado vens tu e minha mãe em cheiros
Bons do açúcar do amor nossa consoada.
Faz mal mas pai há gente a sorrir! Vês, eu
Também apesar de tudo. Ah sim a cidade
Que me passa e repassa e onde te ponho
Flores de pensamento em pensamento e
Me trazes maresia de amor e mesmo os
Desamores de quem gosto sem rancor.
É Natal afinal. Há gente boa. Há gestos
Inaugurais de inútil felicidade sem PIBs
Ratios, rendibilidade e vectores. Viver!
Esse atrevimento, essa aleivosia, doce
Maravilha. Sou menino e deito a língua
De fora aos parvalhões que me gozam
E gosto deles; somos gente transitória
E não me importo e finjo quase tão mal
Como eu também que digo gosto disto
Do bulício dos putos encasacados que
Suam felicidades de dezembros natais.
Há namorados que namoram e desejo
Ser um deles e roubar um beijo pronto
A devolver. É Natal e repicam os sinos
E há campanários citadinos e mãe eu
E mano e amigos e Telma filha minha
De meu irmão e gente que me sorri!!
É Natal, e mesmo quando eu morrer
Haja quem que nestas ruas me veja.
No dia em que o amor acabou
Foi aquele em que mais o senti
Por ti e saí para que apenas ele
Ficasse e se o trouxe em parte
Foi para que não se acabasse
Ele assim tão completamente
E trazê-lo em mim e dá-lo às
Ruas por onde passo porque
Enorme ingratidão o seria se
Do seu alto posto o coração
Meu por desdita o negasse.
Talvez que do desamor
O que mais doa seja o
Exílio da invisibilidade.
Só aos mais altos dentre nós é dada uma
Voz que nos convoca para a matéria alta
Do Sonho! E quando ele emerge Pleno e
Claro, essa mesma voz é todola rasa de
Silêncio para que só se nos oiça a nós!
A felicidade semeia campos
Em flor talvez que na tristeza
As colhamos e a morramos.
Who is the master? Who is the slave?
Are you walking the dog, 'cause that
Dog isn't new Are You out of control,
Is that dog walking you Haven't you
Had enough, now your time is up.
[M. Ciccone]
Fish gotta swim, birds gotta fly
I gotta love one man till I die
Can't help lovin' that man of mine
Tell me he's lazy, tell me he's slow
Tell me I'm crazy, maybe I know
[Jerome Kern, Oscar Ii Hammerstein]
Não esperava ninguém
Já não esperava ninguém
Esperar pressupõe alguém
Alguém real ou irreal também
Espera agora porque há quem.
Dá-me todalas
Flores nascidas
Dos teus passos.
Uma por cada dia
Seu trilho os meus
Passos encontram!
É Natal vens de além
Mais ninguém aquém
Belém traz dezembro
Que meu menino de lá
Vem frio e chega tarde
De fome emaciado traz
Consigo cansaço antigo
Antes 'inda deste mundo
Esquecer o madeiro ferro
Onde foi por nós pregado.
A esta mesa vinde tua ceia
Connosco comer fazei hoje
Apenas hoje nossa vontade.
Sei que não te demoras mas
Ficai um pouco mais apenas:
Para sempre o teu lugar vago.
Quando a luz desce
Aclara aquele findar
Começo começado
Desde já inacabado
Haveria sempre um
Remate um arranjo
Bastará o primeiro
Que tudo é inteiro
Segundo soa eco
Unidade é o fim
Que leva o que
Te trouxe aqui.
Um tempo imóvel. Parei e saí; encostei
A porta. Olhei breves instantes e segui
Para ali perto, nem tão-pouco intenção
De ir mais-além. Uma pausa e estendo
Minha existência inquieta na cama mel
Do silêncio sua esteira e sem estorvos
A espreguiçasse. Dou-lhe embalo mãe
Prenúncio da acalmia sem sono e sons
Chegassem remotos de longa distância.
Só rumor meu pensamento, as turbinas,
A maquinaria mental na pausa industrial
Do cigarro. O mar está todo fora de mim
Todo ele externo - líquida cintura uterina.
Peço água; a maré em reverso. A mim um
Mar, em mim um mar. Meu deserto ondula
O ar, sem peixes, nem regressos. Um anel
Casa o dia e retomo-me. Ali estou à minha
Espera quieto e o mundo recomeça igual e
A sede é minha e não faz ruído logo imersa
Na alta partitura fabril do fazer dos dias seu
Devido uso. Entro; um derradeiro olhar. Sigo.
Vi hoje o teu o teu e o teu
Coração debaixo da pele!
De mão em mão o deram
E agora a ti o meu to dou!
Não me peças a única coisa que não tenho:
O ser feliz. Nunca o fui. O dizê-lo tão assim,
Parece que nunca a felicidade por ti passou
E tal não é vero! Vejo o sol e inda assim não
O sou. E a boca tem beijos e os abraços os
Teus braços e os olhos vêem cousas belas
Se me disseres espectador direi: talvez! Se
Me disseres o palco direi: sorriso para que
Te desatente do meu olhar. Pede-me toda
A roupa do corpo ao ponto da nudez, mas
Não me peças o que não tenho para te dar
O mar, um só pano líquido cobre o mundo
E seus dedos os tantos rios, tem sobre ele
Barcos para lá de barcos e, tal como a ave
Que voa o céu e o não é, assim eles o mar
Nunca serão. Assim, trago grato contento,
Embora não o que me pedes, na algibeira
Onde, por não caberem não minhas mãos
Mas os dias que desembolso à sorte mas
Não o que me pedes e ainda que a dê ou
Que me tenha poisado nasci com o olhar
Assestado ao fim que por se ir chegando
Se aquieta como outrora eu no teu corpo.
Era uma vez! Aqui; todos uma outra vez!
Onde duas mãos, pontuação gramatical,
Nunca escreveriam o ponto final. Maria,
Meu menino-pai nasceu, advento o dia.
Havemos de encontrar-nos, justa hora
O tempo certo da palavra anunciada e
Teu rosto um nome que a mim me dei
Para viver-te o mais além que possas.
Eu que te encontro, o mesmo eu que
Te perde tão de perto naquele beijo
Que adoçando minha boca amargo.
Há muito, muito tempo, havia...! Eu
Sonhava, hoje menos oh não muito
Menos, porque não há como saber
E pouco importa afinal. Sonhava o
Real; isto, o aqui, o hoje, não me é
Quase nada. Imaterial o que me é
É onde sou o meu real, menos no
Agora que no por revelar o sonho.
Era uma vez! O dia feliz, satisfeito
Como um círculo aro perfeito raio
Solar o teu abraço; nada mais eu
Preciso. O mundo é tão pequeno
Sítio!! Podem muito mais os teus
Sonhados sonhos idos p'ra onde
Teu mar suas correntes os levar!
Páginas d'água do mais doce sal
Mas lê o encantador de histórias
No meu deitar, sempiterno amor.
Quantos tempos tem o meu verbo?
Um só; o gerúndio amar te amando.
Dos dias que trago digo o que é uma
Imagem: tudo aquilo que não abarca.
Avé Maria sem Graça
Avé Maria, desgraça
Humana a condição
Quisesse teu nome
Materno o regaço
Natal agora e na
Hora fim Amén!
De todas, a que se abrindo
Já vem fechada. Daquelas
Todas a que sopra calada.
A que faz do perto o mais
Longe dos lugares; beiral
Do cais antemomento do
Infindo mar. Palavra gelo
Advérbio 'Quase', é faca
Que esperançoso mata!
Porque se vive como
Se não morressemos
Eternidade arrogante
Que mata quem vive
Por conta dum nome
Leque vaidade pavão
O querer-se tamanho
De Humanidade que,
Dure o que durar, irá
Um dia acabar, justo
Sem sobrevivos p'ra
Grado nome se libar
Cujo vate ao engano
Imorredoiro predisse.
Esta é a segunda manhã no mundo
E estamos sós. Nós; depois de nós.
Dá-me esta tua mão e dá-me a tua
Outra mão e as minhas dou às tuas.
Vem dançar connosco! Tu, eu e nós
Aqui neste lugar sem música, neste
Sítio de mais ninguém. Nem ontem,
Nem amanhã. Não digas nada nem
Eu nada direi. Põe o silêncio a tocar
Mãos de cabelos, segredo revelado
O teu corpo; o teu corpo desta vez.
Mãos de olhos, poema teu recitado
O meu corpo; meu corpo outra vez
Mãos trazendo-nos amor em mãos.
A leviandade sendo tão airosa
Desfere as mais pesadas balas.
Crê! Não és tu que anda depressa
Sou eu quem meu passo retarda
Para que, por inteiro, veja o teu:
Inteiramente seu o movimento.
A forma dorme na pedra; assim um eu menino
Em mim. A palavra desencanto tem por Canto
Seu íntimo dentro: um recanto, a voz segunda
O dia novo, ode, onde onda a esperança. Não
Porque se repita, mas porque se permite uma
Primeira vez depois da primeira vez. Alevante
À condição do destino de feliz não ser jamais.
Exibia invulgarmente as fragilidades
Como se, por contrários, desafiasse
Do mundo suas lógicas. Porque era
Com aceso pudor que ocultava uma
Força única que vulcânica trazia sob
A placidez anémica o parecer; como
Se fosse deveras impróprio ostentar
Tanta riqueza entre gente indigente.
Podem todas as sedes aqui,
Pelo sortilégio do olhar que
Recebe, beber de ti o amor.
Porque demoras! Poucas horas o
Dia tem e tu não vens. Porque te
Espero? Eternidade cada minuto
Porque dói a esperança um vaso
Que morta a flor já sua terra tem.
Sei nunca da cidade onde
Cheguei, onde me chego
Diariamente. Aconchego
De quem partiu noutros
Lugares inteiras raizes
De sonho e se achega
Na cama aberta inda
A da véspera já meu
Ontem se fizera por
Boas mãos nela me
Deito e acordo para
Dias novos d'alegria.
É Outono e quando te
Oiço chorar é-o ainda
Mais; as folhas caídas
Não são suas mãos a
Ti cingidas a dizer oh
Meu amor eu voltei a
Este lugar para te vir
Buscar. Bem vejo no
Teu olhar tal desejo.
As minhas mãos as
Suas o não são; sei
Disso e tanto mais!
Mas, se imaginares
Uma árvore d'amor
Por ele desenhada
Vê nelas os ramos
Que te quis deixar
Para te agarrares!
Fui eu que do sonho
Me perdi? Ou, inteiro,
Perante ele decresci?
Não sou de mim
Nem serei daqui
Além deste mar,
Nada mais quis!
Inevitável; inevitavelmente dou por mim
Lá. Algo no lugar da vontade. Conduzido
De olhos vendados e essa mesma oculta
Mão deslaça: lá, o terreiro onde tanto eu,
Tantos sucessivos eus, inícios inacabados.
Como se um remoinho, um motor dentro,
Impedisse a água que poderia ter sido o
Meu próprio rio para que me acabasse.
Que pena! Tantos fins sem começos.
Inda assim, traços, sopros do vento
Belo, passam e olho-me infindo...