Ontem cabia nos teus braços e sabia
o mundo por ti. Cresci ao teu andar, fazendo em copos d'água pequenas tempestades. Ainda ontem ajudei o
teu andar. Vi-te humano amando
os teus defeitos como tu amas os
meus. Ficou adulta a manhã de
domingo quando cedo o telefone
tocou, sabendo que o mundo que
tinha acabou. Meu velho, trago-te
comigo e já não sou menino; esse
fica contigo a ouvir os segredos
dos livros que escolhias para me
abrires as janelas, as varandas
e as portas do mundo. De ti,
as tuas mãos, os teus lábios, os
teus olhos. Esses doces olhos.
Esses teus imensos olhos! Ainda
não me disseste nada desde então;
sei que andas ocupado mas tenho
que te contar os dias e dizer-me
inteiro: os 'dinheiros', os amores,
o trabalho, os sonhos; há livros
para trocar, aquelas conversas
que juntavam almoços, lanches
e jantares! Que aconteceu!? Não
percebi. Eu sei. Falámos. Ficou
selado. E vou. Irei, farei, para que
me cumpra e me junte a ti para
bebermos o café frio, como
gostas, e fumares esquecido
o teu cigarro e falarmos da mãe,
do mano e da neta. Não me
demoro a ir ter contigo. Assim
que acabar de viver, subirei as
escadas a correr ao encontro
dos teus braços, de lado a lado
abraçado, e acabar dos teus lábios beijado. PS: não leias até muito tarde,
mas não apagues a luz papá; ainda preciso!
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