Porque não inventar um lugar
Onde se chega por mar a ilha
De maravilhas toda percorrida
Em pés de algodão e da boca
Soprado um vento estival que
Dança a folhagem das árvores
Das frutas doces dos pomares
Favos de olhos de mel e uvas
Da boca geram divinos vinhos
Brindando taças de mãos que
Se dão ondulantes nas searas
Da pele de quem se namora e
Demora no amor que se faz o
Prazer dos corpos sem venda
De culpa e sob a luz prateada
Da lua pagã que comanda as
Marés as colheitas e humores
E semanas feitas para nascer
O belo é nu sentido da morte
Que se cumpre no viver vida
Inteira como ela se faz cada
Dia novo enterro do anterior.
Sem dor viveremos contigo
Rosto de lírios encanecidos
Flores altas do teu cansaço
Regaço materno nos braços
Manto onde poisas o olhar e
Divaga o pensar ou um avião
Sem motor que transporta as
Coisas da alma em seu redor.
Às vezes cabemos o mar ou
O mar que trazemos cabe no
Seu tamanho água de mar a
Perder de sal ou doce somos
No útero líquido dentro e fora
É quando peixes a respirar ar
Se perdem para nunca mais
Voltar. O mundo evapora-se
E fica um charco e dizemos
Lago a dizer chuva no estio
Saber que sangram lábios
Gretados; um último rio,
Que se abraça vazio.
(c) Filipe M. | texto e fotografia (2015)