Recebi-a educadamente. Fez-se da casa como se dum velho amigo se tratasse. Mas enfim...tinha bons modos, pouco ou nada se fazia notar. Melíflua, prestável; foi ficando.
Tomou, na sua transparência, paredes, portas, soalhos, tectos e janelas. Depois, gestos, palavras, sonhos. Os dias tornados meses.
Crescia, assenhoreava-se (sempre com bons modos; irrepreensíveis modos! Delicados modos!) decrescia eu: em palavras, em gestos, em sonhos.
Era o avesso do fato com que saia ela à rua na vez minha. Sombra assimétrica. Descompasso.
E era já ela tanto e eu tão pouco que toda ela já era a casa onde quem já não cabia era eu. Ficou lá a morar a tristeza (seu nome) e vim morar para as ruas da alegria.
(c) Filipe de Macedo / Fotografia: S. Paulo, Lisboa.