Tão bela em si
Perante ela me
Despi de corpo
Tristeza parece charco
Espelho da alegria que
Vem Sol posto ao alto
O rancor greta o solo
Inda que toda a água
Do céu caia, nascerá
Jamais em seu chão
Árvore cujo fruto dê
Em flor sua gratidão
Aqueloutra evapora
Este reinícia eterno.
Laços que se deslaçam
Nós que se dão por crer
Um querer quando de fé
Se abre íntima a vontade.
A lombada dos livros o piano das tuas mãos;
Ressoa o silêncio: partitura doutras melodias
A pedra atirada ao rio já não arredonda como
Ainda há pouco (ainda é dia oito e um relógio
Tic-tac-tic-tac) a água-rio dança em círculos
Crescentes. A água reganhou a superfície lisa
E a pedra acamou no leito. É curioso meu pai:
A mesma pedra no mesmo rio e há medo de
Que a paz que nos dizes não a entenda eu.
Ainda é dia oito e há relógios: o meu o teu o
Relógio da sala, sentinela do tempo laico da
Casa, agora todo de Deus: Campanário Alto
Onde não chego eu. É Seu o 'Sino da Minha
Aldeia'. O piano dos livros, o tic-tac-tic-tac
Dos relógios dos pulsos das mãos. Os teus
Olhos olham cada vez mais e acontece tua
Boca ter ("já gastámos as Palavras pela rua
Meu amor") caminhos emudecidos. Ouviam
tanto os teus olhos. As lombadas dos livros,
Os teus óculos, vês melhor sem eles! Vêem
P'ra lá disto e não o saber eu sabendo-o eu.
Os meus cruzam os teus e não falamos por
Isso ou não, dura esta conversa. Já tirámos
Os relógios? É só amanhã que te tem Deus.
Tic-tac-tic-tac! Os livros: ando a ler as tuas
Mãos de papel. Ouves o som do piano? São
As minhas mãos a tocar cada lombadada. A
Ter-te devagar. Tic-tac-tic-tac. Já é amanhã?
I'm ready, I'm ready for what's next
I'm ready to duck, I'm ready to dive
I'm ready to say 'I'm glad to be alive'
I'm ready, I'm ready for the push
In the cool of the night
In the warmth of the breeze
I'll be crawling around
On my hands and knees
(...)
I'm ready, ready for the gridlock
I'm ready to take it to the street
I'm ready for the shuffle, ready for the deal
Ready to let go of the steering wheel
I'm ready, ready for the crush
Da ausência e presença o parecer
Seus contrários tanta vez; camisa
De avessos, bastidores revelados
No palco visto do outro lado o ser
Eu teu espectador. No que oculta
Outro lado destapa. Dos pés teu
Corpo à cabeça do que em mim
Naquele instante preciso, algo triste.
Um gesto quase toca a corrente d'ar
O prumo da luz vitral amorna a tarde
Superfície da pele do corpo imaterial.
Ao redor o vozear contido e regentes
As mãos do fraseado dos lábios cujo
Movimento acompanho vago. O café
Desprende volutas de vapor, biombo
De momentânea distração passando
Por aqui e ali. Como alguém a fechar
Uma janela ao frio do inverno e volta
Ao dentro da casa e afazeres diários
Um aquário com vista ao céu e voos
De pássaros de mar em terra à vista
Horas de langor de curta eternidade
Tudo parece quieto, insolente gesto
Mínimo que seja como um amante a
Adiar o deslaçar dos corpos em par.
Não tanto pelo facto de estar tão só
Nem por dó de si. O afago lúcido do
Por fim ou do ainda não (ou o talvez
Jamais) coloca-te perante ti mesmo
E a especulação tentadora de quem
És e foste ou o que para ti reservam
Os dias vindouros. Feliz é o instante
Momento inteiro o círculo que fecha
Logo o que começa, além disto tudo
São grilhetas. Descentro-me resisto
À tentação do Eu. Recomeço em dia
P'lo que me dás a ver retomo alegria.
(c) Filipe M. | texto e fotografia (2017)
E aqui nos desencontramos
Dos caminhos desenhados!
Do amar-te imperfeitamente
Alento animado fim de festa
Porque acaba o que começa
Perfeito não supõe ninguém!
No desacerto há o teu e meu
Eixo, rotação translação astro
Rutilante manhãs nos demos!
Só apouca o havido quem por
Si se traz pequeno já de antes.
(*) Almada Negreiros
Acrescido de ti que cresceste em mim; eu
Que nada quis tive mais do que pedi; quis
Muito mais que nada tão menos que tanto
Que nunca me atrevi pensar que era para
Mim. Pergunto-me se pensas em mim no
Longe; de quando em vez pelo menos. E
Vi o que estava oculto
Falei calado fui sem ir
A nenhum lado, amei
Sem ser amado, não
Momento. Paras e vês formar-se uma parede
De água. Sabes que é uma onda que desaba.
Se te pensares como um barco naufragas, se
A lombada dos livros o piano das tuas mãos;
Ressoa o silêncio: partitura doutras melodias
A pedra atirada ao rio já não arredonda como
Ainda há pouco (ainda é dia oito e um relógio
Tic-tac-tic-tac) a água-rio dança em círculos
Crescentes. A água reganhou a superfície lisa
E a pedra acamou no leito. É curioso meu pai:
A mesma pedra no mesmo rio e há medo de
Que a paz que nos dizes não a entenda eu.
Ainda é dia oito e há relógios: o meu o teu o
Relógio da sala, sentinela do tempo laico da
Casa, agora todo de Deus: Campanário Alto
Onde não chego eu. É Seu o 'Sino da Minha
Aldeia'. O piano dos livros, o tic-tac-tic-tac
Dos relógios dos pulsos das mãos. Os teus
Olhos olham cada vez mais e acontece tua
Boca ter ("já gastámos as Palavras pela rua
Meu amor") caminhos emudecidos. Ouviam
tanto os teus olhos. As lombadas dos livros,
Os teus óculos, vês melhor sem eles! Vêem
P'ra lá disto e não o saber eu sabendo-o eu.
Os meus cruzam os teus e não falamos por
Isso ou não, dura esta conversa. Já tirámos
Os relógios? É só amanhã que te tem Deus.
Tic-tac-tic-tac! Os livros: ando a ler as tuas
Mãos de papel. Ouves o som do piano? São
As minhas mãos a tocar cada lombadada. A
Ter-te devagar. Tic-tac-tic-tac. Já é amanhã?
Por sobre as máscaras
Fui pondo várias caras
Ando assim disfarçado
Rosto cansado e alegre
Saudoso ou enamorado
Com a verdade engano
Não é a nudez que diz
O íntimo, mas a roupa
De que nos despimos.