Foi no final da rua
Na dobra da esquina
Que percebi...
Demora a vida atravessar a rua
Há o passeio
O asfalto de permeio
Há o passeio
Voltar ao outro lado a buscar o que ficou desse lado do lado
O asfalto de permeio
Chegar ao outro lado e poisar o que ficou do outro lado
Uma rua e a vida para a atravessar
Um lado do lado
O lado do outro lado:
"Um-dó-li-tá
Cara de amendoá
Um segredo colorido
Quem está livre
Livre está"
O asfalto de permeio (a língua do gato é áspera como lixa e dói nos pés o que se lhes fixa)
Os passeios escorregam-nos das mãos
Os passeios e as suas calçadas Desenhadas para que os pés as leiam Mas não seguram o andar que tem o olhar
A rua tem começos e fins
Quatro sentidos:
De lá para cá
De cá para lá
Deste lado para o outro
Daquele lado para este
Uma vida rectangular
A face tem apenas dois lados
A face magoada
E a outra face que damos para que nos doa uma segunda vez,
Consentido desta vez
Consentido por uma vez
Sem sentido nenhum
A rua tem quatro faces para que corramos na ilusão longitudinal do rectângulo, mas sei bem que é um quadrado (!)
Um quadrado circular porque andamos às volta uma vida inteira para atravessá-la (a rua somos trespassados de lado-a-lado).
Mas ficamos sempre qualquer coisa no (e do) outro lado quando já deste lado estamos e voltamos uma e outra vez
(a língua que arranha também cura e amacia o pelo grés)
Menos de cada vez
Uma e outra vez
Demora uma rua inteira para fazermos uma vida
E na esquina
Vi-te uma última vez
(a primeira vez, talvez)
E percebi...
Que o rosto só se vê uma vez.
Sem comentários:
Enviar um comentário