Fui e vim para me retrazer;
Fi-lo sem (inútil) o entender.
Estou aqui assim: ontem sim!
Estão lá nomes que dizem de
Mim, o que andei a (des)fazer
Quão grande de imenso viver
E no entanto no tamanho dum
Bolso coloco as mesmas mãos
Que fizeram amor ou essas tuas
Que me deram colo. Um instante
O presente e pretéritos na frente.
As janelas, que dão vistas, abrem
Para trás; as portas que saem por
Onde um dia entrámos são chaves
Que não abrem mais. Pensamento:
Invenção; a memória, doce mentira.
A verdade onde não chegamos mas
Não faz mal: o mar que mata é o mar
Que faz sonhar! Sim, sei o teu nome e
Todos os dias, ao dizê-lo ecoas o meu.
Um nome, a mais bela invenção de Ser.
E digo-o. Não porque existas ainda ou
Já não mais, mas porque a enunciação
Traz um corpo capaz de convocar o dia.
O amanhecer e entardecer. Tão simples
E leva uma meia vida a aprender e outra
Meia a esquecer e diz tudo do nascer e
Do morrer e por isso te beijo meu amor.
(c) Filipe M. | texto e fotografia (2017)