Falo apenas por mim, óbvio.
A ficção imita, mal, a realidade. Quantos dias de sol trago na algibeira da alma quando desaba por fora de mim (como hoje) a mais tremenda das borrascas e outros há em que tudo é sol e trago eu chuvas imensas!
Que deverei tomar por real e, em seu extremo de mão dada, por irreal? Se trago sol é a chuva por lá de fora que é para além de mim; e, do mesmo modo, o seu contrário.
Da mesma sorte: quando o inesperado (sobretudo o bom) nos sucede é tão demasiado real que violenta a ficção que dele criámos. E retalhamo-lo em pequenas parcelas e recriamo-lo. O único acto de traição não é traduzir; é concretizar - uma pessoa, um acontecimento, só nos é real (real em nós, mais do que para nós) quando o 'desreslizamos'. Depois parametrizamo-lo, deglutimo-lo, enzimamo-lo até ser nosso.
O sol dá-nos a luz e, contudo, o não vemos. É por via dele a percepção mas tudo o mais são os nossos olhos e deles os seus olhares. Sucede amiúde não vermos o defronte e vermos, tangente, o adiante. Hoje chove e todavia não chove porque me amanheceu sol.
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