Porque pedras certeiras amputaram os candeeiros: o escuro das ruas;
Porque o mar galgou as calçadas: palavras afogadas;
Porque as flores não se dão ao amanhecer: campos imensos por abrir
Porque os dias são sete vezes tantos: rebanhos há sem pastor
Porque as copas se atêm à raiz: sem sombras os céus febris no seu vazio
Porque as marés não regressam ao mar: peixes sem sal no ar
Porque os rios extravazam o cansaço dos seus leitos: lágrimas no olhar
Porque caem folhas: outonos no andar
Porque as mãos são sobras: na boca míngua na vez do amor
Porque não há rotas: barcos chegam sem chegar e deles sai gente sem vontade e sem chão onde atracar
Porque não há sonhar: apenas aqueloutro lugar."
(Outonos, 2012)
(c) Filipe M. | texto & fotografia (2012; 2015)